O que faz os moradores de Florianópolis consumirem – ou desistirem de consumir – notícias? Quais são os canais de informação mais procurados? Que temas interessam mais à população da capital? O que faz as pessoas confiarem ou desconfiarem dos jornalistas? Quem está disposto a pagar por notícias?

Essas e outras questões fundamentais para a compreensão do futuro do jornalismo e de sua relação com os públicos serão apresentadas na próxima terça (7), aos estudantes de Jornalismo da UFSC e demais interessados. Com o tema “O que conecta as pessoas ao jornalismo local?”, a palestra será realizada às 8h30 no Auditório Henrique Fontes, no Centro de Comunicação e Expressão (CCE).

Aberto ao público em geral, o evento é organizado pelo grupo LocalJor (Laboratório de práticas para o jornalismo local a serviço dos públicos), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da UFSC, que no segundo semestre de 2024 realizou uma pesquisa por amostragem com 604 moradores de Florianópolis a respeito de sua relação com as notícias. O estudo é registrado no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e recebeu financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (FAPESC).

Os resultados da pesquisa serão apresentados pelos professores Samuel Pantoja Lima e Andressa Kikuti Dancosky, responsável pela pesquisa. A mediação ficará a cargo da professora Flávia Guidotti, coordenadora do curso de Jornalismo da UFSC.

Durante a atividade, os convidados apresentarão os resultados da pesquisa dedicada a investigar como o público de Florianópolis se relaciona com veículos de comunicação locais. A proposta é estimular a reflexão sobre a relevância do jornalismo local e debater os caminhos para fortalecer o vínculo entre imprensa e sociedade na capital catarinense.

O que conecta as pessoas ao jornalismo local?

7 de outubro (terça), às 8h30
Auditório Henrique Fontes (CCE-UFSC)
Debatedores: Profª. Andressa Kikuti Dancosky e Prof. Samuel Pantoja Lima
Mediação: Prof.ª Flávia Guidotti

Jornalistas do portal ND+, do Grupo ND, tiveram oportunidade de conhecer detalhes e discutir os resultados da pesquisa “O que conecta os públicos ao jornalismo local?”, realizada pelo em 2024 pelo LocalJor (Laboratório de Práticas para o Jornalismo Local a Serviço dos Públicos), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGJOR-UFSC). A investigação buscou compreender as bases para a construção de um jornalismo local de qualidade a partir da concepção dos moradores da cidade.

O encontro aconteceu na última quinta-feira, 25 de setembro, na sede do ND+ em Florianópolis, a convite da empresa. A pesquisadora Andressa Kikuti Dancosky, coordenadora executiva da pesquisa, apresentou os dados a editores e repórteres que atuam nas cidades de Florianópolis, Joinville, Criciúma, Itajaí, Chapecó e Blumenau, que participaram de forma presencial e remota.

Entre maio e junho de 2024, uma equipe de voluntários foi a campo entrevistar 604 moradores de todos os bairros da capital catarinense. A população respondeu sobre hábitos de consumo do jornalismo, interesse por temas da cobertura jornalística, razões para consumir notícias, o que os públicos valorizam e razões para desistir de ler notícias, sustentabilidade e percepção de influências no conteúdo jornalístico, engajamento e participação do público no jornalismo.

“A gente sabe que as saídas para o jornalismo não vem só da academia, e nem só da prática profissional. A gente precisa trabalhar juntos”, afirma Andressa. No encontro, os jornalistas relataram experiências, compararam dados e debateram meios de alcançar melhor o público. “A conversa gerou vários insights para pensarmos em conteúdos diferentes para entregar a quem consome notícia em Florianópolis”, relata Richard Vieira, editor-chefe do site ND+.

O grupo LocalJor vem realizando uma série de atividades para a divulgação dos resultados da pesquisa. No dia 21 de agosto, pesquisadores participaram de uma audiência pública na Câmara dos Vereadores de Florianópolis que reuniu cerca de 40 pessoas, entre representantes de sindicatos, associações de moradores e iniciativas de jornalismo independente. Antes, no dia 23 de abril, a pesquisa foi apresentada a parlamentares, estudantes, autoridades e representantes da sociedade civil na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc). Agora, no próximo dia 7 de outubro, o relatório será apresentado aos estudantes do curso de Jornalismo da UFSC e à comunidade acadêmica. O evento terá início às 8h30 no Auditório Henrique Fontes.

As entidades da sociedade civil de Florianópolis terão a oportunidade de avaliar o jornalismo local e propor transformações para o ecossistema de informações da capital. A partir de outubro, uma pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) vai ouvir as organizações sociais com o objetivo de propor um novo modelo de jornalismo de serviço público não-estatal para a produção de notícias locais.

Com o título “Novas institucionalidades de serviço público não-estatal para o jornalismo local em Santa Catarina”, a pesquisa é realizada pelo grupo de pesquisa LocalJor (Laboratório de práticas para o jornalismo local a serviço dos públicos), do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da UFSC, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc).

Trata-se da segunda etapa da pesquisa, que em 2024 ouviu 604 moradores da cidade de Florianópolis (SC) com o objetivo de compreender os hábitos de consumo de notícias, o interesse por temas da cobertura jornalística e outras questões sobre a relação entre a população da cidade e o jornalismo local. O resultado da pesquisa pode ser acessado aqui.

Participação da sociedade

Nesta nova etapa, o LocalJor pretende mobilizar as organizações da sociedade civil de Florianópolis para pensar qual jornalismo é adequado para as necessidades e os desafios das cidades. Serão ouvidos representantes de entidades de diversas áreas, como cultura, meio-ambiente, direitos humanos, além de sindicatos de trabalhadores e associações empresariais. O objetivo do projeto é desenvolver um modelo de organização jornalística de caráter público, com a participação da sociedade em sua constituição.

“Nossa proposta é pesquisar e desenvolver essas novas institucionalidades de serviço público não-estatais para a produção de notícias de âmbito local. A principal estratégia deve residir não na busca de maximizar receitas e lucros, mas na promoção do princípio das cidades inteligentes e na preocupação com o papel da informação de qualidade no fortalecimento da democracia e no desenvolvimento socioeconômico regional”, afirma o professor Samuel Pantoja Lima, coordenador da pesquisa.

Entrevistas começam dia 6/10

A primeira reunião com a equipe de voluntários foi realizada nesta terça-feira (16). Nos próximos dias, serão feitos testes e ajustes no questionário da pesquisa. A previsão é que as entrevistas com as entidades sejam realizadas a partir do dia 6 de outubro. Os entrevistadores entrarão em contato com as organizações, divididas em 12 áreas de atuação – Arte e Cultura, Assistência Social, Direitos Sociais, Desenvolvimento Comunitário, Direitos da Criança e do Adolescente, Direitos da Pessoa Idosa, Direitos Humanos, Educação, Meio Ambiente, Saúde e Esporte, Sindicatos e Associações Empresariais – para agendar a realização das entrevistas de forma presencial.

Além do censo com as entidades, o LocalJor também pretende aprofundar o debate através de comunidades de prática e grupos focais, visando a produção de conhecimento aplicado. Esta Etapa 2 do estudo se estende até dezembro de 2026.

No último dia 21 de agosto, a audiência pública provocada pelo LocalJor (Laboratório de Práticas para o Jornalismo Local a Serviço dos Públicos) na Câmara dos Vereadores de Florianópolis reuniu mais de 40 representantes de sindicatos, associações de moradores e iniciativas de comunicação independente para debater a situação do jornalismo local na cidade. Coordenada pelo vereador Camasão (PSOL), a audiência também contou com a presença de Carla Ayres (PT) e Bruno Ziliotto (PT), além de assessores de Afrânio Boppré (PSOL), Ingrid Sateré Mawé (PSOL) e Renato da Farmácia (PSDB).

Além de parlamentares, a mesa da audiência foi composta pela vice-presidenta do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de SC (SJSC), Schirlei Alves , a presidenta da Associação Catarinense de Imprensa (ACI), Déborah Almada, o professor e pesquisador do LocalJor-UFSC, Samuel Pantoja, e a presidenta da União Florianopolitana de Entidades Comunitárias (Ufeco).

O evento foi iniciado com a apresentação dos resultados da pesquisa “O que conecta as pessoas ao jornalismo local?” da pós-doutora Andressa Kikuti sobre os hábitos, interesses, sustentabilidade, engajamento e participação da população de Florianópolis no consumo do jornalismo produzido sobre a cidade. Em seguida, representantes das entidades presentes falaram sobre como os dados da apresentação se relacionavam com o dia a dia das entidades e de mídias comunitárias e independentes.

Uma fala recorrente na audiência, foi a necessidade de uma legislação que destine uma parte das verbas de publicidade do município de Florianópolis para meios de comunicação comunitários e independentes. Os editais que existem atualmente não favorecem a concorrência desse tipo de meio que acaba subfinanciado e sem a possibilidade de contribuir com o jornalismo da cidade, restringindo a pluralidade.

Na audiência, o LocalJor lançou também uma publicação com os resultados resumidos da pesquisa. O professor Samuel Pantoja fez o convite para que as entidades presentes participassem da segunda fase do estudo, que busca entender melhor os hábitos e impressões da sociedade civil organizada sobre o jornalismo local. Além disso, uma pesquisa qualitativa com grupos focais, deve desdobrar os resultados da primeira fase ainda neste segundo semestre de 2025.

De acordo com o promotor da audiência, vereador Leonel Camasão, “a audiência foi muito importante não só para trazer esse debate para Câmara, mas também para instrumentalizar os vereadores sobre a necessidade da gente ter outras formas de financiamento do bom jornalismo. Nós vivemos no mundo hoje repletos de fake news, de mentiras que são combustíveis do neofacismo, do autoritarismo, de linchamento virtuais. Então é muito importante que a gente busque iniciativas para que o jornalismo volte a ser abundante na nossa sociedade”.

Acesse o relatório resumido da pesquisa aqui.

A equipe de pesquisadores do LocalJor (Laboratório de práticas para o jornalismo local a serviço dos públicos) finalizou coleta de dados da pesquisa de campo no mês de junho. Ao todo, foram entrevistados 604 moradores da cidade de Florianópolis (SC) ao longo de dois meses. O objetivo foi compreender os hábitos de consumo, o interesse por temas da cobertura jornalística, as razões para consumir notícias, para desistir delas, entre diversas outras questões sobre a relação entre a população da cidade e o jornalismo local.

A amostra tem as mesmas características da população total de Florianópolis no que diz respeito à faixa etária, gênero, raça/cor, escolaridade, renda e distribuição territorial na cidade, com margem de erro de até 5%. O questionário foi aplicado nas ruas da cidade, em terminais de ônibus, pontos de comércio e residências, por uma equipe de oito pesquisadores. Além dos participantes do projeto, também participaram estudantes voluntários e profissionais contratados.

A equipe foi coordenada por Denis Berté Sálvia, que é consultor em análises de dados e pesquisador sobre estudos com abordagens quantitativas. Para Sálvia, esse tipo de pesquisa envolve três desafios principais: o custo; o desenho da pesquisa; e a aplicação de todos os passos do método. O recurso aprovado para o projeto através da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc) garantiu que a execução fosse possível. O planejamento prévio do projeto possibilitou o foco na etapa metodológica do questionário. “Fizemos pré-testes com a própria equipe e testes piloto em campo, para então chegar na versão final do questionário”, e além disso “a equipe precisou ser treinada para executar o campo, que tem prazo e modos específicos de se realizar”, acrescenta Sálvia.

Além da relevância dos dados, o questionário também foi uma experiência pedagógica para os estudantes de graduação. Para Lara Apolinário, voluntária da pesquisa, “a pesquisa prática, em campo, foi um diferencial que contribuiu muito para minha experiência pessoal e acadêmica”. A graduanda em Jornalismo na UFSC já participou de outros projetos de pesquisa, mas ainda não tinha participado da aplicação de um questionário fora do meio digital. Para ela, um dos maiores aprendizados foi “entender como abordar as pessoas, como identificar perfis, como lidar com respostas divergentes e comportamentos divergentes”, complementa.

As primeiras análises dos dados do survey estão condensados em relatório e disponíveis para consulta aqui.

Pesquisadores e pesquisadoras do LocalJor organizaram uma roda de conversa com a professora e pesquisadora Letícia Cesarino, autora do livro “O Mundo do Avesso”, sobre as relações entre o jornalismo e o contexto analisado por Cesarino em sua obra, lançada em 2022 pela Editora Ubu.

Entre os tópicos da conversa, estiveram o detalhamento do clima de polarização e crise constante, a queda na confiança em instituições tradicionais, as estratégias de grupos extremistas e o papel do jornalismo frente a esses desafios. A autora analisa movimentos anti-sistêmicos e o modo como as lógicas das plataformas digitais contribuem para o fortalecimento desses grupos.

A principal ideia discutida foi a relevância do território para o jornalismo em um mundo cada vez mais conectado. “No local, não é possível fazer guerrilha digital, você tem que ir pro território, tem que ir de baixo pra cima”, analisa Cesarino. “É preciso reinventar completamente. É o único jeito de atravessar o celular”, complementa.

Letícia Cesarino é professora do departamento de Antropologia da Universidade Federal de Santa Catarina e pesquisa humanidades digitais, ecologia da mente e pós-neoliberalismo. Foi Assessora Especial em Educação e Cultura em Direitos Humanos no Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC). O livro “O mundo do avesso” está disponível aqui.

Os pesquisadores do LocalJor Andressa Kikuti, Gabriela Grillo e Lucas Cabral apresentaram o trabalho “Mapeando interesses do público local: apontamentos preliminares sobre um survey em Florianópolis (SC)” no 47º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, realizado na Univali em Balneário Camboriú.

O artigo apresenta análises de três questões do survey realizado pelo LocalJor: questão sobre as temáticas que mais interessam o público; quais temas a população acredita que falta no jornalismo local; e as razões para acessar notícias no dia a dia. Analisando as respostas, foi possível perceber a ligação entre as razões para consumir notícias e o aspecto local, a relevância de temáticas como educação, saúde, cidadania e meio ambiente e o sentimento de falta de notícias sobre mobilidade, infraestrutura, segurança, saneamento e moradia.

Os temas mais interessantes podem estar relacionados a uma avaliação moral da importância dessas questões para a vida social, não somente na cobertura jornalística. Já os temas que aparecem como “faltantes” estão diretamente ligados à vida na cidade e aos problemas reais encontrados pelos seus habitantes, o que reforça a importância do lugar.

O trabalho completo, apresentado no Grupo de Pesquisa sobre Comunicação e Desenvolvimento Regional e Local, está disponível aqui: https://sistemas.intercom.org.br/pdf/submissao/nacional/17/06282024175731667f23bb0f809.pdf

O pesquisador do LocalJor Lucas Cabral participou da 5a edição do Festival 3i de jornalismo inovador, inspirador e independente. O evento foi realizado no Rio de Janeiro e discutiu temas relacionados à diversidade de caminhos disponíveis para o jornalismo no Brasil e no mundo.

Promovido pela Associação de Jornalismo Digital (Ajor), o festival reuniu iniciativas jornalísticas de diversos países, assim como instituições de apoio ao jornalismo e pesquisadores do tema. Entre os assuntos tratados, estão as possibilidades de financiamento e a criação de fundos de apoio para iniciativas jornalísticas, a relação entre jornalismo e inteligência artificial e novos modelos de narrativa para o ambiente digital. “O Festival 3i agrega o que existe de mais interessante nas experiências atuais no jornalismo. A possibilidade de conhecer o que o mercado está realizando é essencial para o desenvolvimento de uma pesquisa que esteja conectada com a realidade, além de me permitir conhecer eventuais financiadores para os projetos que tentamos desenvolver”, considera Lucas Cabral.